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Durante dez anos, minha esposa Connirae e eu modelamos pessoas que conseguiram usar bem seus recursos para lidar com a perda de pessoas queridas. A partir disso, nós desenvolvemos um padrão para ajudar outras pessoas a resolver rapidamente a tristeza e experimentar uma re-união com o ente querido que se foi, afastando a sensação de perda.
Muito logo, entendemos que algumas perdas são também acompanhadas por uma reação de fobia ao choque ou trauma causado pela perda repentina, violenta, e, de qualquer forma, terrivelmente desagradável. Compreendemos, também, que uma reação fóbica e uma reação de tristeza são como imagens opostas num espelho: a reação fóbica resulta da associação à experiência desagradável, enquanto que a reação de tristeza resulta da dissociação de uma experiência agradável. Foi muito simples aprender a dizer ao cliente: "Veja: o choque e o trauma que você sofreu são totalmente diferentes e separados do amor que você sentia pela pessoa que perdeu. O que aconteceu foi simplesmente que eles ocorreram ao mesmo tempo, de modo que você os misturou." Após separar essas duas experiências, pudemos usar a cura de fobia para o dissabor, e depois usar o processo de solução da tristeza sobre a perda.
À medida que exploramos mais profundamente o uso deste padrão, descobrimos que o mesmo também podia ser usado para outras espécies de perdas: localização (ex.: a casa da família), atividade (ex.: um esporte muito apreciado), informações (ex.: uma lembrança especial), ou coisas (ex.: um anel). Muitos leitores reconhecerão que estas são as outras quatro categorias da "determinação de conteúdo dos metaprogramas", e que muitas perdas envolvem mais do que uma delas. Um jogador de basquete que sofre um acidente e nunca mais pode jogar pode perder não somente a atividade que tanto aprecia, mas também a companhia daqueles que jogavam com ele. Alguém que vai embora de um lugar querido também poderá perder as coisas que ali se encontram, etc.
Além de perder algo do mundo real, as pessoas frequentemente sofrem uma perda interna de si próprios. Alguém que perde o cônjuge pode perder também o senso de si próprio como um(a) esposo(a) querido(a), e alguém que perde um filho pode também perder o sentido de si próprio como um pai (mãe) especial. A perda de si mesmo pode ser resolvida pelo mesmo método, mas a compreensão e o reconhecimento deste aspecto interno da perda externa é uma questão de respeito, e pode ser de grande valia.
Depois, nós descobrimos que o mesmo padrão poderia ser usado em experiências que a pessoa nunca teve na realidade, mas que se constituíam em representações vívidas e queridas do que poderia ser ou poderia ter sido: uma criança sofrida com uma representação do que seria uma infância feliz, uma mulher que sonha ter filhos e descobre que não poderá tê-los, um homem com um sonho de vida inteira sobre o sucesso na empresa, que se descobre num emprego que é um "beco sem saída". Mesmo alguém que realmente realiza seu sonho, muitas vezes descobre que o mesmo não era, de fato, o que esperava. Uma vez que tais experiências estão frequentemente no âmago do que se costuma chamar de "crise da meia idade", a utilidade do padrão da tristeza tornou-se ainda mais ampla.
Finalmente, nós descobrimos que quando o padrão de solução da tristeza não funcionava, havia ressentimento em relação à pessoa que se foi, ou ressentimento em relação a um Deus que permitiu que tal desgraça ocorresse. No começo, isso era uma barreira que criava confusão, mas alguns anos depois Connirae e eu e os participantes de um seminário avançado modelamos o processo usado espontaneamente pelas pessoas para alcançar confortavelmente um perdão profundo e duradouro.1
À medida que trilhamos este caminho de desenvolvimento por alguns anos, começamos a compreender que os processos que estávamos explorando eram muito mais do que simples intervenções para lidar com obstáculos pessoais ao próprio modo de viver. Todos nós experimentamos traumas, perdas, ira e ressentimento no decorrer de nossas vidas. Ao aprender como usar nossos próprios recursos para lidar com essas experiências universais, estávamos explorando uma atitude completamente diferente diante da vida, que alguns poderão chamar de "espiritual".
Apareciam muitos sinais ao longo do caminho. Quando as pessoas alcançavam a re-união com a experiência da perda e as lágrimas do encontro conseguiam derreter a dura carcaça da defesa contra a dor que os mantinha num pequeno e isolado mundo, muitas vezes elas falavam sobre o fato de se sentirem mais completas e mais abertas para o mundo e para a vida. Após observar uma demonstração do processo de solução da tristeza, uma pessoa sábia disse: "Entendo; ela perdeu uma parte de si mesma, e você a devolveu para ela." O desenvolvimento, pela Connirae, do processo de Transformação Íntima explorou o poder curador de reexperimentar e reconhecer os estados íntimos da união amorosa com toda a criação.
Gradualmente, surgiram perguntas muito mais abrangentes, que muitas vezes fizeram eco aos ensinamentos e à compreensão de uma diversidade de tradições espirituais: a relação entre o eu e o mundo; a natureza das fronteiras criadas por nós, que nos impedem de abrirmo-nos a um mundo maior; o fato de que a maior parte do sofrimento baseia-se na ilusão e no apego obstinado a ideias que nos limitam e de que os julgamentos podem empobrecer facilmente e encolher nossos mundos, transformando-os em pequenas e desconfortáveis prisões.
Muitas das tradições espirituais antigas têm sustentado essas ideias como uma boa maneira de viver. A diferença, agora, é que nós sabemos o suficiente sobre os processos que podemos ensinar às pessoas de como fazer isso na realidade e descobrir de que maneira isso muda sua orientação em relação aos desafios inevitáveis da vida.
Esses são alguns dos elementos de minha contínua exploração sobre aquilo que venho chamando de "espiritualidade prática", aprendendo como realmente alcançar estados apontados pelos místicos durante séculos – não como uma preparação para um mundo que virá (a evidência disso nunca foi muito imperiosa para mim) mas como uma maneira valiosa e prática de viver neste mundo, agora.
Steve Andreas, com sua esposa Connirae, tem estudado, ensinado e desenvolvido a PNL – Programação Neurolinguística por mais de vinte anos. Eles são autores ou editores de diversos livros e artigos de PNL. www.steveandreas.com/
Publicado na revista Anchor Point de Julho de 1999
Publicado no Golfinho Impresso Nº56 - Set/99
Trad. Hélia Cadore