Um enredo que cura crianças

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seg, 09/10/2006

O que é que você faz se o seu filho sofre com pesadelos, de medo de fracassar ou de outra fobia? O que é que você faz se ele é alérgico ao leite de vaca, pólen, tomate ou poeira? Simples: você lhe conta uma história especial.

A ideia para escrever histórias que curam para crianças ocorreu a Paul Liekens depois da sua aparição num programa da rede de televisão holandesa VTM, em 1999. Durante o programa, Paul, que é trainer de PNL, contou como muitas fobias e alergias podiam ser curadas usando as técnicas da PNL. Ele apoiava a sua alegação por ter ajudado um conhecido âncora da TV a superar o seu medo de voar. Depois do programa, o canal foi assolado por chamadas, principalmente de pais cujos filhos sofriam de alergias e outras sensibilidades.

Mas crianças não respondem bem as abstratas técnicas de reprogramação da PNL, que se concentram no aprendizado de olhar a si próprio de longe. Liekens saiu a procurar um caminho alternativo para chegar ao subconsciente, e teve a ideia de usar contos de fadas e metáforas nas suas histórias. Ele realizou um projeto piloto usando histórias com 20 crianças. Os resultados foram surpreendentes – 18 das 20 crianças superaram seus problemas – de tal modo que os pais permitiram publicar seus números de telefones no livro ‘Healing Stories (Histórias que curam)’ para que os céticos pudessem entrar em contato com eles.

De acordo com Liekens, os processos biológicos são conduzidos pelo subconsciente. Se alguém tem um envenenamento depois de comer camarão, o subconsciente pode repetir a reação de vomitar e de ficar doente quando a pessoa comer outros frutos do mar. A intenção positiva por trás dessa reação exagerada é proteger a pessoa de ficar doente de novo ao impedi-la de comer peixe. A medicina convencional mantém essa reação sob controle ao usar remédios como os anti-histamínicos. Mas isso não resolve o problema, o que significa que as pessoas continuam a ter reações alérgicas.

Liekens e sua coautora Ann Delnoy trabalharam com metáforas e contos de fadas para retificar esse brilho na subconsciência das crianças. Os contos de fadas dão aos jovens a oportunidade de reconhecer padrões em suas próprias vidas, sem chamar atenção diretamente para os padrões. Uma criança pode se identificar intensamente com um bicho de pelúcia ou um herói. O que acontece com o bicho de pelúcia na história é o que a criança está experimentando. Se o bicho de pelúcia se cura de um sintoma particular, a criança também pode.

Contos de fadas fazem uma distinção entre identidade – ‘você é saudável’ – e as reações físicas – ‘a sua barriga dói’. Liekens relata: "Não é você que é alérgico, é a sua pele ou o seu estômago que está tendo uma reação alérgica. A PNL supõe que o subconsciente é feito de inúmeras partes. Algumas vezes, várias partes confundem os sinais e usam, por exemplo, uma reação alérgica a gatos, e assim ele não precisa visitar a tia Resmungona. Esta é a razão porque algumas pessoas são alérgicas aos gatos, à exceção dos gatos dos seus namorados."

Nos contos de fadas, Liekens também ajuda as crianças descobrirem que elas têm pequenos ajudantes nas suas barrigas (o seu próprio poder de cura). E que podem perguntar a eles qualquer coisa. Nas histórias, os bicho de pelúcia se tornam fortes, mais inteligentes ou desenvolvem mais autoconfiança e a ‘desculpa’ alérgica não é mais necessária. O livro também fornece dicas práticas para ajudar os pais a criarem histórias bem-sucedidas para ajudar a curar seus filhos.

Escreva uma história que cura

Qualquer um pode escrever uma história que cura. Veja como fazer.

  1. Qual é o problema? O seu filho está com medo de ler em voz alta na frente da classe? Ele está assustado porque as outras crianças podem não gostar dele? Ele se sente inferior porque não consegue fazer a lição de matemática?
  2. Do que o seu filho gosta? Quais os heróis com que ele mais se identifica? Quais são os bichos de pelúcia que ele mais gosta? Quais os programas de televisão? O que ele gosta de realizar? Quais são os seus esportes ou atividades favoritas? Quais são os seus traços característicos peculiares?
  3. Escolha um personagem e um contexto para a história. Escolha um mundo no qual a criança será capaz de se divertir. Príncipes, planetas, animais ou insetos podem ser boas opções. Decida que animal ou bicho de pelúcia será o personagem principal e que representará seu filho.
  4. Elabore um começo para a história na qual o personagem principal tem muitas aventuras divertidas, mas também tem problemas similares aos sintomas da criança. O personagem não deve ser doente, apenas ter o problema.
  5. Depois imagine um final no qual o personagem principal chegou aonde ele queria: ser mais forte, mais inteligente, livre dos sintomas, capaz de comer o que quer, etc.
  6. Invente o percurso que o personagem principal fará para chegar até lá. É sempre conveniente ter a mão um outro herói do mundo do seu filho para dar bons conselhos ao personagem. Por exemplo, uma mulher sábia, um mágico ou uma velha coruja conta para o personagem que ele tem ajudantes de todos os tipos na sua barriga e que isso o mantém sempre com boa saúde. Um deles, não teve más intenções, mas causou acidentalmente os sintomas. Estes ajudantes ou aliados vão ajudá-lo agora a se livrar dos sintomas, e por isso o seu estomago vai ficar forte e completamente curado. ‘A sua barriga costumava ficar doente com X, mas como ela ficou bastante forte, a partir de agora ela será capaz de tratar bem dessa comida.’ Na história, o personagem principal aprende desta maneira a fazer as coisas que antes não conseguia mas que agora pode.

A festa de Spetter

Como exemplo, nós incluímos parte de uma história que cura, escrita para uma menina que tinha medo de fracassar e que amava os golfinhos. Resultado: depois de apenas uma história, ela ficou com mais confiança nela para jogar basquete. Ela corria para frente com mais frequência e tinha coragem de pedir a bola, e as outras crianças começaram a passar para ela. Na escola, suas notas em soletração e matemática melhoraram, tudo começou a ficar mais fácil e ela começou a se divertir mais na vida.

Parece que vai ser mais um dia quente. Eram oito horas da manhã e Spetter deitado, apreciava sua aconchegante cama na água quente e salgada. Logo mamãe acordá-lo. Spetter pensou nas coisas divertidas que faria hoje na escola. A festa da escola era daqui a alguns dias e hoje era o dia em que eles iriam praticar com empenho para o grande show dos golfinhos.

A mãe de Spetter interrompeu esses agradáveis sonhos matinais com uma surpresa igualmente agradável: ‘Spetter, Spetter, levante! Venha olhar. Eu tenho deliciosas sardinhas frescas para você.’

Spetter pulou da cama e nadou até a sua mãe que lhe serviu um delicioso café da manhã. ‘Oh, mamãe, eu sou um golfinho sortudo. Primeiro um café da manhã saboroso e, depois na escola, eu vou praticar para o grande show dos golfinhos no domingo. Você acha que eu vou ser capaz de fazer todas as rotinas na festa da escola?’ Spetter perguntou um pouco indeciso.

‘Lógico que fará, meu querido, não há dúvida que você pode fazer tudo isto ou eles não teriam o escolhido para estar no show. Eles podem não ter escolhido você no passado, mas agora que você está mais crescido, mais alto e mais forte, é natural que todos querem você participando.’

Spetter sentiu seus poderosos músculos relaxarem sob sua pele macia. Ele se sentia muito contente.

‘Vamos meu jovem, é hora de ir para a escola.’

A escola já estava bem cheia. Todas os golfinhos crianças estavam trabalhando para se preparar para a festa. Spetter foi direto para a sala do mar onde seria o grande show. O professor perguntou quem queria demonstrar a primeira acrobacia da festa. Todos os golfinhos ergueram bem alto as suas caudas. Todos queriam mostrar como podiam realizar o salto muito bem. Spetter de repente sentiu falta de ar. Ele já tinha feito a acrobacia mais de 100 vezes, mas de repente não conseguia mais se lembrar de como fazê-la. Ele se sentiu absolutamente infeliz, o coração batendo na sua garganta. Timidamente, ele deu uma olhada para o lado. Será que seus amigos podiam escutar que o coração dele estava batendo muito ligeiro? Ele não queria ser humilhado, e então ele também levantou a sua cauda. Ele esperava que o professor não o escolhesse. Não teve sorte. Das quinze caudas erguidas, ele foi o escolhido. ‘Certo Spetter, venha nos mostrar como se faz. Você pode fazer muito bem aquela acrobacia. Vai ajudar se todos enxergarem como fazer.’

Spetter não sabia o que tinha acontecido com ele. O que ele devia fazer agora? De repente, ele tomou uma decisão corajosa: ‘Eu vou dizer que não lembro mais. Não tem nada de errado. Eu estou aqui para aprender.’ Na hora em que ele ia abrir sua boca, ele sentiu toda a tensão escapar do seu corpo, substituída por uma onda de força interna muito grande. Essa força o recompensou pela sua honestidade. Era como se a força quisesse dizer: ‘Tudo o que você faz está perfeito. Mas faça sozinho e não se preocupe com o que os outros falem sobre você.’

‘Oi Spetter, pare de sonhar, nós estamos esperando pela sua acrobacia perfeita!’

Spetter sorriu. Ele ainda não tinha saltado, mas já se sentia um vencedor. Ele tinha descoberto a fonte da sua própria força escondida dentro dele mesmo. Ninguém ia poder tirar isto dele. Cheio de coragem, e convencido de que podia conseguir, Spetter afundou na água. Foi o salto mais maravilhoso até hoje.

‘Hurra! Hurra! Aí Spetter!’ gritavam seus amigos. Spetter estava contente. Era ele mesmo que tinha feito isto e não se importava com que os outros pensassem. Ele estava orgulhoso dele! Para o Spetter, a festa tinha começado hoje!

Adaptado com permissão de ‘Helende verhalen voor kinderen’ (Healing Stories for Children- Histórias que curam para crianças), Paul Liekens e Ann Delnoy (Ankh-Hermes, ISBN 90 202 6040 5), um livro - disponível somente na língua holandesa – com ‘metáforas para crianças com reações alérgicas, supersensíveis ou medrosas’.

Esse artigo apareceu na Revista Ode – edição no. 7     www.odemagazine.com

Mais informações: www.paulliekens.be.

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