Escrito por:
Publicado em:
Antes de iniciar meu aprendizado em PNL, eu havia dito a mim mesma que jamais trabalharia com crianças. Minha mãe é fisioterapeuta de crianças e ela tinha seu consultório em nossa casa. Eu estava acostumada a ver e ouvir crianças chorando e com dificuldades de aprendizado ou problemas de comportamento. Bem, resolvi que jamais trabalharia com crianças. Os conhecimentos de PNL me mostraram que meu inconsciente, que não reconhece o "jamais", estava planejando meu futuro. Eu dei alguns passos em direção ao grau de Mestre em Administração Empresarial (MBA), morando nos Estados Unidos, e trabalhando numa agência de propaganda para realizar isso. Eu abri meu próprio escritório em 1995 e venho trabalhando com crianças e adolescentes por 5 anos. E uma coisa que sempre digo a eles é que aquilo que queremos, ou que não queremos, pode nos acontecer.
Eu trabalho principalmente com crianças e adolescentes, entre cinco e vinte e dois anos. Eles me procuram devido a dificuldades em aprender escrita ou matemática, ou porque têm problemas de falta de atenção ou comportamentais; alguns deles têm medo de testes.
Ao trabalhar com crianças, acho muito útil a pirâmide abaixo:
Primeiro, temos que estabelecer uma relação com um tópico, ou um campo, na escola. Esse deve fazer algum sentido para o aluno: ou ele gosta da professora e quer trabalhar para ela. Ou quer fazer os pais felizes. Ou sente-se bem ao fazer um bom trabalho na escola.
Em segundo lugar, eles devem estar num bom estado, de modo a poder acessar os próprios recursos e estratégias interiores. E, mais importante, ter a coragem de falhar quando tentam novas estratégias.
Em terceiro lugar, precisam descobrir sua própria maneira de aprender, experimentar e avaliar as estratégias usadas.
Se a relação com o tópico ou o professor for prejudicada, o estado em que as crianças estão será um estado ruim ou de pouca energia. Num estado de baixa energia, os recursos e as estratégias internas não podem ser acessados. Provavelmente, serão usadas as estratégias que sempre foram usadas, embora não funcionem. Devido ao fato de que a pessoa não se sente bem consigo mesma, ela não está disposta a abandonar as estratégias que não funcionam, mas são conhecidas, e a trocá-las por estratégias desconhecidas, mas que funcionam.
Assim, ao trabalhar com uma criança precisamos, de alguma forma, ajudá-la a se relacionar com o tópico ou com o professor. Depois, orientá-la na administração do seu estado, assisti-la para que encontre seu próprio estilo de aprendizado e as estratégias que melhor funcionam para ela.
Eu gostaria de explicar esta pirâmide conforme a usei numa sessão de terapia que tive com um menino chamado Mark.
Mark veio a mim porque tinha problemas em escrita e ortografia, e também em matemática. Usando a pirâmide como uma lista de verificação, eu perguntei qual era o tópico que ele mais gostava na escola. Ele respondeu que era Biologia.
Perguntei-lhe o quanto gostava da biologia. Ele disse: Muito, e desenhou um sorriso.
Perguntei-lhe, então, como ele se sentia ao fazer as coisas relativas a biologia. Ele respondeu: "Bem", e desenhou novamente um sorriso.
Você é capaz de aprender bem, lembrar-se das coisas, fazer o desenho de algo? Ele disse: "Sim", e desenhou outro sorriso.
Depois, olhamos para o outro lado. Você gosta de matemática, de escrita? "Não muito". Como se sente quando você realiza tarefas dessas matérias? "Terrível". Você consegue lembrar-se, aprender as coisas em alemão e em matemática? "OK".
Procuramos, então, descobrir o que o fazia detestar a matemática e a escrita. "A professora", disse ele. "Ela não gosta de mim. Ela sempre reclama."
Às vezes, os estudantes têm problemas com o professor, e na Alemanha os professores frequentemente costumam motivar apontando o que o aluno fez de errado. Perguntei a ele: "Então, quem vai ganhar, você ou a professora?" Ele se empolgou, olhou-me diretamente nos olhos e deu um largo sorriso, dizendo: "Claro que sou eu!"
Isso mudou o relacionamento com a professora, e eu tenho notado muitas vezes que essa atitude contrária e raivosa é um bom motivador para as crianças. Elas começam a ver a coisa mais como um jogo que podem ganhar. Sentem que estão tendo alguma influência sobre a situação.
Então, começou o jogo. Todos os que realizam algo, os esportistas, qualquer um que realize alguma coisa, precisa pensar sobre seu estado. Pedi que ele lembrasse de uma vez em que se sentiu feliz e conseguiu realizar algo muito bem. Depois, comparei com um estado em que ele sentiu-se mal e a maneira como conseguiu realizar alguma coisa. Voltamos para a lista de verificação.
Neste caso, o estado dele dependia da professora. O menino era orientado para os outros, e tinha grandes habilidades sociais. Ele queria que a professora gostasse dele, e ela não gostava. Ele tinha quase uma fobia em relação à professora; mencionar o nome dela colocou-o num estado ruim.
Então, o que fazer? Muitas vezes, uso a cura de fobia para ajudar as crianças a fazerem a dissociação de experiências ruins. Com este menino, eu mudei as submodalidades da professora, também. Primeiro, encolhemos a professora e lhe demos uma voz de Mickey Mouse. O menino mudou imediatamente o estado, começou a rir, e disse: "Ela ficou tão pequena que está se arrastando debaixo do carpete". Que imaginação, pensei. Realmente, ela está muito pequenina. Fiquei pensando quem eu faria tão pequenino que pudesse arrastar-se sob o carpete.
Agora, estamos trabalhando para usar sua grande habilidade imaginativa para aprender matemática e escrita.
Agora, ele já está muito melhor na escola. Suas notas melhoraram bastante. E até seu relacionamento com a professora melhorou. E ela vem dando um retorno mais positivo ao trabalho dele.
Quando conseguimos ajudar as crianças a se relacionarem com o tópico e a administrarem seu estado, podemos pensar em transferir recursos. Eu gosto muito da estratégia de Robert Dilts para a escrita, e a tenho usado para quase tudo: para aprender uma língua, ou para aprender a multiplicar, e até, num certo caso, para aprender todos os estados dos Estados Unidos. Ela funciona sempre, e as crianças se desempenham muito melhor nos testes de percepção visual.
É uma estratégia tão importante para aprender a escrever como para ajudar as crianças a aprenderem as técnicas básicas de aprendizado, como: continuar a fazer as tarefas mesmo que sejam difíceis, perseverar, cometer erros, não desistir, fazer perguntas, e procurar descobrir as coisas que não sabem.
Eu encorajo isso nas horas em que as crianças estão comigo. Também oriento os pais a fazerem o mesmo. Às vezes, tenho contato com os professores e explico-lhes sobre a pirâmide.
Portanto, o foco, para os pais e para os professores deve ser:
- Relacionamento.
Explico a pirâmide aos pais, para que eles entendam que o mais importante é o relacionamento, e que o seu foco principal deve ser colocado no relacionamento que têm com a criança ao invés de colocá-lo no resultado do trabalho escolar. - Estado.
Os pais devem saber que seu filho começa com uma espécie de débito na conta de seus estados emocionais ao começar um trabalho escolar. Neste ponto, é importante valorizar o fato de que ele/ela ainda está tentando, começando por si mesmo, e fazendo perguntas. - Estratégias.
As Estratégias que temos trabalhado na lição são explicadas aos pais, para que eles possam usá-las com as crianças, por exemplo, a estratégia de escrita. Novamente, é importante lembrar os pais para manterem o processo, e não o resultado, em foco. O uso da estratégia correta deve ser recompensado, e não a escrita correta. Não saber a palavra significa que é hora de melhorar a estratégia, e não de repeti-la.
Eu descobri que, por simples que seja a pirâmide, não podemos pular os níveis; precisamos passar de um por um. Tudo começa com o relacionamento e, às vezes, é o relacionamento que a criança tem consigo mesma que faz a diferença. Mudar isso, ajudando-a a administrar seu estado e melhorar sua estratégia faz toda a diferença.
Vi até que ponto as crianças podem chegar quando uma mãe ligou para mim, antes do Natal. O filho dela havia estado comigo 2 anos antes. Naquela época, o diagnóstico dele foi de dislexia, e não havia qualquer garantia de que ele seria capaz de terminar a escola e encontrar um emprego como aprendiz junto a um artesão. (Na Alemanha há um curso de três anos de artesanato, que inclui a escola e a prática. Existe mais procura do que oferta de emprego, de forma que as companhias podem escolher quem elas quiserem; notas baixas em Alemão dificultam muito encontrar um emprego).
Ela ligou para dizer-me que seu filho havia terminado a escola com o grau A em Alemão e está fazendo aquilo que sempre desejou: tornar-se um artesão.
A mãe perguntou a ele: "Como foi que você conseguiu um A em alemão? Você sofre de dislexia!" "Bem, eu posso!" disse ele.
Eu senti muito orgulho dele.
Publicado na Anchor Point, Junho de 2000.
Tradução: Hélia Cadore
Publicado no Golfinho Impresso Nº 69 de OUT/2000