Em Crenças que Promovem a Saúde, Elvira França mostra um aspecto muito conhecido, mas pouco pesquisado. Trata-se do "tenhas fé, acredite e serás curado". Inicialmente, a autora faz uma fundamentação teórica, falando das bases do funcionamento do sistema nervoso, das localizações dos centros nervosos de controle dos movimentos, sentimentos, emoções e sua relação com a programação neurolinguística. A seguir, sai em busca de seus dados, uma missão difícil, tendo em vista a impossibilidade de se fazer filmes ou fotografias nesse tipo de trabalho. Faz entrevistas com dezoito curadores leigos ("médicos") e outros sessenta curados ("pacientes"). Transcreve com bastante precisão os depoimentos, nos quais o leitor se vê de frente com um verdadeiro dicionário do palavreado amazonense, o retrato atual da identidade dos moradores desta terra.
Os depoimentos são impressionantes! Há momentos em que o leitor tem a precisa visão da existência de uma cultura cosmopolita que reina em Manaus, resultado da ampla miscigenação do índio com todo tipo de gente. Outras vezes, observam-se as diferentes abordagens usadas pelos curadores leigos ao se realizar a cura. Vê-se que há um traço marcante, um forte predomínio da base da crença no Cristianismo. Outras vezes, ela coloca o leitor em confronto com os diferentes conceitos de "saúde e doença" que a população tem como memória sociogenética. Observa-se, claramente, que os curadores leigos realmente procuram promover a "saúde," alcançando a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, ao dizerem que "saúde não é só a ausência de doença, mas o completo estado de bem-estar físico, mental e social." Tanto os curadores leigos, como as pessoas com a saúde fragilizada, ao se encontrarem, procuram atingir esse objetivo, uma vez que a medicina formal é muitas vezes inacessível para eles.
Para fechar seu livro, Elvira passa a transcrever as "receitas, os métodos e técnicas terapêuticas" que são utilizadas pelos curadores leigos e algumas propostas novas. Fala das diferentes atitudes verbais e não-verbais, das formas de comunicação interpessoal, das características dos curadores e dos curados ("relação médico-paciente"). Apesar da rebeldia de Elvira, em não formatar o trabalho nos moldes de um trabalho científico clássico, a autora conduz o leitor a um campo pouco explorado e já esquecido por muitos profissionais da saúde: ser mais humano, prestar mais atenção no seu paciente, transmitir ao doente mais esperança, cultivar mais fé naquele que busca o auxílio, ser mais ético nos atos e na fala. Certamente, todos alcançarão a cura. Este é o segredo dos curadores leigos: eles acreditam e alcançam o bem-estar próprio e dos outros.
Dirceu Benedicto Ferreira
Doutor em Patologia Humana na USP - Ribeirão Preto
Tutor do Programa Especial de Treinamento (PET)
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