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"A boa notícia é que sua condição é de pré-câncer. A má notícia é que isso não tem tratamento, e eu recomendo muito que você faça uma mastectomia."
"Desculpe, o que você disse ser uma boa notícia?" O doutor continuou abrindo e fechando a boca; eu sei que ele emitiu sons, mas as palavras desapareceram num turbilhão.
Nos últimos anos, eu tenho andado para cima e para baixo, em salas lotadas dos consultórios médicos, esmagada pelas máquinas de mamografia, com agulhas removendo amostras de tecido enquanto presa numa bancada, tive grande parte de meu corpo retirada cirurgicamente, e o meu peito totalmente removido.
Por sorte, minha mãe frequentemente me acompanhava nas visitas médicas. Por sorte, minha amiga que trabalha no centro de informações sobre o câncer apareceu com uma pilha de informações. Por sorte, meu irmão me acompanhou nos procedimentos, para segurar minha mão e obter as respostas quando meu cérebro sofria um nocaute.
Mas, mesmo em meu estado de letargia após a primeira operação, eu pude compreender que deve haver uma maneira melhor de passar por isso. Assim, pensei em 10 dicas para sobreviver ao sistema de saúde:
- Sempre presuma que você caiu no buraco, até que tenha prova em contrário. A falta de notícias não é bom sinal. Isso pode significar que alguém esqueceu de fazer algo. O cuidado médico pode ser complicado e precisa de muita coordenação, quando há um grande número de pessoas para serem atendidas.
- Jamais culpe os outros. Reconheça que todos os que trabalham no sistema estão muito ocupados e provavelmente estressados. Enquanto você está preocupado apenas consigo mesmo, eles estão atendendo dezenas de pessoas, possivelmente centenas.
- Crie relações positivas com todos aqueles que podem ajudar você. Apresente-se a todas as enfermeiras, recepcionista, técnicos e médicos que você vai precisar ver novamente. Pergunte a todos qual é o seu nome. Lembre-os, ou anote-os. Na próxima vez que você os ver, estabeleça rapport, usando seu primeiro nome e envolvendo-os numa conversa pessoal, antes de voltar ao trabalho. Isso leva apenas alguns segundos. Isso vai ajudar você a se tornar alguém mais do que um simples número na fila, e lhe dará uma visão do que cada pessoa faz. Facilitará, também, quando você precisar solicitar alguma coisa.
- Peça desculpas, antes de fazer um pedido. "Desculpe incomodar quando você está tão ocupado, mas como não tivemos contato antes, achei que seria melhor perguntar se você poderá me atender." Os Canadenses naturalmente pedem desculpas por tudo, mesmo quando não são responsáveis. É hora de aprendermos o poder de pedir desculpas. Se você pede desculpas, você pode pedir quase tudo – e ainda assim ser recebido com simpatia.
- Leve alguém com você, e dê-lhe uma tarefa. Para qualquer reunião importante ou procedimento, leve um amigo ou membro da família com você. A tarefa dele é permanecer calmo, criar rapport e fazer boas perguntas. Dessa maneira, se você perder, alguém reterá a informação.
- Use todos os seus contatos. Certamente, alguém que você conhece também conhece alguém que pode encontrar o que você precisa. Às vezes, essa poderá ser a única maneira de obter informação, uma segunda opinião, ou de poder falar com alguém mais rapidamente. Se você estiver hesitante em usar seus contatos, peça desculpas por incomodá-los.
- Esteja preparado para longas esperas. Marque seus compromissos para cedo da manhã, antes que o médico comece a atrasar suas consultas. Assim, você será atendido pelo médico antes que ele esteja cansado. Logo após o almoço também é uma boa hora. Lembre-se de levar algo que você gosta de fazer, para o caso de uma espera mais prolongada.
- Interprete tudo o que o seu médico disser como informação, não como profecia. Tome seu tempo para pensar a respeito. Lembre-se de que os profissionais da medicina são treinados para pensar e discutir os piores prognósticos possíveis. Pergunte-lhes o que cada um dos tratamentos pode proporcionar, e repita essa mensagem constantemente para você mesmo, a fim de criar uma mentalidade orientada para um objetivo. Escreva suas perguntas antes da consulta e anote as respostas, ou peça ao seu companheiro para escrevê-las.
- Faça o que for preciso para permanecer alerta e positivo. É perfeitamente normal sentir-se deprimido e de moral baixo quando se recebe uma má notícia. Eu entrei em choque, melancolia, negação, pânico, fúria e depressão. A gente pode se permitir sentir isso tudo, sabendo que essa é a maneira como está se sentindo no momento, e que vai sair dessa. Lembre-se continuamente de que você tem boa saúde, que é capaz de melhorar rapidamente. Note o que melhorou todos os dias e comente o assunto consigo mesmo e com os outros. Enquanto outros podem pensar que isso é uma fatalidade, você pode até mesmo falar com o seu corpo: alegre-se pelo seus sistema imunológico, e agradeça-o por ajudar você.
- Junte-se a pessoas alegres, de alto astral, que ajudam a crescer. Eu achei terrível ter que animar outras pessoas, quando contei-lhes que tinha um câncer. Também tive que aguentar as teorias de cada um deles, sobre o que eu deveria fazer. Existe muita solidariedade que você deve aproveitar, antes de começar a sentir pena de si próprio. Encontre-se somente com aquelas pessoas que lhe fazem bem – que o façam rir, que saiam com você, que tragam coisas boas para comer. Se alguém lhe perguntar como pode ajudar, diga-lhes que façam comidas capazes de levantar o moral, que o levem para um belo filme, que tragam um bom vídeo. Se pessoas depressivas quiserem visitá-lo, peça-lhes desculpas e diga-lhes que você não está disposto.
No começo do ano passado, eu fiz várias cirurgias reconstrutivas, algumas das quais muito difíceis. Há alguns meses atrás, meu filho de 11 anos recebeu um diagnóstico de câncer. Até agora, tudo bem – essas 10 dicas têm ajudado muito, embora eu precise admitir que tem sido muito mais duro conviver com os sentimentos relativos à doença do meu filho do que com a minha. Embora eu seja capaz de ser positiva sobre a melhora dele quando falo a ele, seu irmão e os atendentes, tem sido um grande desafio manter-me positiva quando estou sozinha.
Eu tenho recebido apoio extra: Frequento um terapeuta para livrar-me das frustrações e receber orientação. Eu dou de ombros e perdôo a mim mesma quando esqueço para onde estou indo. Eu pratico jogos de computador. E descobri uma boa desculpa para ter muitas compensações.
Onde deixei meu pacote de Werthers? (caramelos de leite)
Shelle Rose Charvet é Autora do livro sobre Metaprogramas, Words That Change Minds: Mastering the Language of Influence (ainda não traduzido para o português, Palavras que Mudam a Mente). Ela mora no Canadá, e realiza treinamentos em todo o mundo. (www.successtrategies.com/)
Publicado na Anchor Point de SET/2000
Artigo publicado no Golfinho Impresso Nº73 de fevereiro/2001
Tradução: Hélia Cadore