Diferentes maneiras de ajudar um cliente a fazer mudanças

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seg, 01/12/2014

Com bastante frequência, alguém me escreve perguntando sobre como reunir informações para determinar qual é a estrutura do problema e que intervenção usar. "Como eu posso decidir o que fazer, quando e que método usar?" Essa é uma questão básica muito importante e, em resposta, quero oferecer alguns pensamentos e formas alternativas de pensar sobre o assunto.

Quando você tem um número de intervenções diferentes que funcionam para problemas diferentes - e não em outros - é importante ter certeza de que a solução é a adequada para o problema. Em comparação, muitos terapeutas ainda usam um método "genérico", de modo que não tenham que reunir informações - eles simplesmente lançam a sua única intervenção e esperam que funcione.

Por exemplo, a Terapia Gestalt - com a qual estive profundamente envolvido por cerca de dez anos, nas décadas de 1960 e 70 - sempre envolve experimentação e identificação plena com os diferentes aspectos de um conflito no momento presente. Isso funciona muito bem para o pesar, no qual o cliente se sente separado da pessoa perdida, porque no processo das duas cadeiras, ele pode experimentar plenamente se envolver novamente com os sentimentos especiais que teve com a pessoa perdida. Mas Gestalt não tem impacto sobre uma fobia, porque o cliente já está, no presente, experimentando inteiramente o terror - a solução oferecida pela Gestalt é a mesma do problema.

Agora vamos dar uma olhada na pressuposição do artigo "o" em "o problema" - de que existe somente um problema. Alguns problemas limitados têm uma estrutura que pode ser resolvida com uma única intervenção, e isso é verdade para a maioria das fobias e muitos hábitos ou reações simples. Um problema, como uma fobia, que ocorre apenas ocasionalmente, em um conjunto limitado de contextos, geralmente terá uma estrutura mais simples e será mais fácil de resolver. Um problema que ocorre em uma ampla gama de contextos resulta, provavelmente, de uma combinação de fatores, ou a partir de um elemento-chave do funcionamento de uma pessoa, como por exemplo decisões, motivação, a forma como ela organiza o tempo ou uma parte da identidade dela.

Às vezes, uma única estrutura inadequada pode ter muitos resultados problemáticos diferentes. Então quando você altera essa estrutura, uma série de problemas aparentemente não relacionados se resolve simultaneamente. Muitas vezes, alterar a linha do tempo pessoal de alguém faz isso. Por exemplo, uma linha do tempo que está estendida no espaço, de modo que as imagens do amanhã e do ontem estão sempre a um quarteirão de distância, vai fazer com que alguém ignore os erros do passado e as consequências futuras, e prestar mais atenção ao presente imediato. Isso tende a ter um grande número de consequências, incluindo uma forte motivação para o prazer no presente, a vulnerabilidade à tentação, e uma baixa capacidade de manter um emprego ou ficar com uma tarefa que não é agradável em si, mas que promete recompensas futuras. Com uma linha do tempo mais comprimida, essas imagens do amanhã e do ontem vão estar mais perto e maiores (e, muitas vezes, mais brilhantes e mais coloridas), e assim terão muito mais impacto sobre decisões e motivação atuais.

Mas a maioria das pessoas não tem um problema, elas têm vários, e algumas têm muitos. O que pode parecer ser um único problema pode ter muitos aspectos ou elementos separados diferentes e, geralmente, cada um desses problemas requer um método diferente para ser solucionado.

Por exemplo, no Transtorno do Estresse Pós Traumático (TEPT) existe geralmente o que eu chamo de "núcleo fóbico", uma memória de uma experiência terrível de risco de vida, muitas vezes, uma imagem momentânea "congelada" que aparece em "flashbacks", em resposta a gatilhos sensoriais. Mas geralmente o TEPT também inclui outros aspectos - culpa, vergonha, tristeza, arrependimento, ansiedade, hipervigilância, violência, etc., e frequentemente o cliente os experimenta como um emaranhado confuso. O meu programa de vídeo online, O treinamento do TEPT, demonstra como desenredar esses diferentes aspectos e trabalhar com cada um deles separadamente, de modo que cada um possa ser trabalhado usando-se o método adequado. O meu outro programa de vídeo online, intitulado Resolvendo o TEPT, demonstra como fazer isso em um trabalho realizado com um veterinário iraquiano ao longo de 4 sessões, totalizando 9 horas.

Quando estou ensinando um padrão ou uma intervenção particular, eu não tenho que reunir nenhuma informação. Eu simplesmente peço para alguém que tenha esse tipo de problema para o qual a intervenção foi projetada. Peço para alguém que está sofrendo uma perda, ou tenha uma fobia ou tem dificuldade para tomar decisões. Ocasionalmente, o voluntário tem uma experiência diferente das palavras que eu uso - por exemplo, ele tem ansiedade, ao invés de uma fobia - mas geralmente é uma boa combinação, e o que ele tem é apropriado para a intervenção que eu quero demonstrar.

Isso sugere um possível caminho alternativo para trabalhar com um cliente, especialmente para um terapeuta iniciante, ou para alguém que tenha apenas alguns métodos disponíveis. Em vez de começar com uma investigação geral sobre que problema(s) ele gostaria de resolver, ou que resultado(s) gostaria de alcançar e, em seguida, reunir informação mais detalhada, você pode tentar uma abordagem diferente.

Você pode fazer uma lista mental dos diferentes métodos que conhece e que problemas eles resolvem e, em seguida, fazer a mesma coisa que eu faço em um treinamento - pergunte ao seu cliente, se ele tem um problema para o qual você tem uma solução confiável. "Você tem uma fobia? Está sendo perturbado pelo luto devido a uma perda? Você tem raiva ou ressentimento que interfere na sua vida? Você tem ansiedade em certos contextos? Você está sempre incomodado pelo remorso?"

Quando o cliente responde "sim" a uma das suas perguntas, você pode prosseguir e oferecer um método que seja adequado, com alta probabilidade de sucesso. Ao invés de correr o risco de se perder em infindáveis coletas de informações e, possivelmente, ficar "com dificuldade para lidar com o problema" tentando resolver problemas para os quais você não está bem preparado, você pode lhe oferecer uma espécie de miscelânea do que sabe como fazer de forma confiável.

Essa abordagem é particularmente útil com um cliente que está numa grande confusão, e não tem ideia do que precisa. A sua lista de problemas pode incluir problemas sobre os quais não tinha nem pensado, ou assumiu que não era algo que pudesse ser resolvido e, por isso, não pensaria em pedir. Se um cliente não percebe que a fobia pode ser curada em uma única sessão, ele não vai solicitar.

Existem inúmeras vantagens com essa abordagem. Você pode ficar mais confiante em ser útil a um cliente, sabendo que pode mostrar resultados rapidamente quando trabalha com o tipo de problema que você sabe como resolver. Quando o cliente obtém resultados rápidos, isso agrega valor, e constrói rapport e a probabilidade de que ele vai voltar para obter a resolução de outros problemas. No processo de solução de um problema, outros podem surgir, e você pode obter informações sobre outros aspectos da pessoa que serão úteis para fazer outras mudanças.

No entanto, essa abordagem não seria apropriada com um cliente que já tenha uma descrição muito bem formada sobre o seu problema ou objetivo, porque ele pode sentir que você está ignorando esse fato e, por isso, é importante manter o rapport ou usar uma abordagem diferente com ele.

Outra maneira de trabalhar é tornar-se fluente em vários processos fundamentais que, frequentemente, estão na base de muitos problemas, como por exemplo tomadas de decisão, motivação, linhas do tempo e identidade. Então, quando um novo cliente chega, você pode ouvir respeitosamente a forma como ele descreve o seu problema, e se você sabe como resolvê-lo, prossiga. Mas isso seria só uma espécie de preâmbulo para dizer: "Eu descobri que se examinar certas habilidades fundamentais que todo mundo tem e precisa, eu posso ser de mais utilidade para você mais rapidamente ao ajudá-lo com os problemas específicos com os quais você está preocupado" e, então, reunir informações sobre como ele toma decisão, como se motiva, como representa o fluxo do tempo ou como ele pensa sobre si mesmo, e aí oferecer alguma mudança que você identifica que poderia ser proveitosa.

Fazer mudanças com qualquer um desses quatro processos básicos pode mesmo resolver o problema que trouxe o cliente até você, ou pode resolver outros problemas que ele nem havia identificado, ou que não estavam em primeiro plano na sua experiência. No mínimo isso será interessante, e oferece pistas importantes sobre o que mais pode ou não ser conveniente para se explorar mais tarde.

Para resumir, você pode reunir informações sobre o problema atual, pode oferecer uma espécie de aperitivo de diferentes mudanças específicas para o cliente escolher, ou pode pesquisar alguns processos muito básicos que provavelmente serão adequados para qualquer cliente. E você sempre pode combinar essas abordagens diferentes, ou se mover suavemente de uma abordagem para outra enquanto se desenrola a sessão, tornando-se menos provável que você fique empacado em alguma.

O artigo "Different Ways to Help a Client Make Changes" encontra-se no site Steve Andreas’ NLP Blog.

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