Terapia não-convencional

Livro do Mês - Janeiro de 2011

Capa do Livro

Terapia não-convencional - As técnicas psiquiátricas de Milton H. Erickson

"Terapia não-convencional", que tem como subtítulo "As Técnicas Psiquiátricas de Milton H. Erickson", de autoria de Jay Haley, edição da Summus Editorial, São Paulo, é uma obra de primeira grandeza no campo terapêutico. Seu autor foi um dos grandes pioneiros da terapia sistêmica. Foi membro do primeiro grupo de pesquisadores capitaneado por Gregory Bateson e foi um dos grandes disseminadores do processo terapêutico desenvolvido por Milton Erickson.

Para Haley, Milton Erickson, com seu trabalho pioneiro, foi um dos pais das novas formas de psicologia clínica. Ele desenvolveu uma abordagem muito diretiva, com foco na mudança e as relações entre os membros de um casal ou família. Segundo Haley, foi maravilhoso estudar com Erickson, a maior autoridade mundial sobre a hipnose.

Admirador e discípulo de Erickson, Jay Haley em "Terapia não-convencional" faz uma rica análise da praticidade do trabalho ericksoniano. O livro é fruto de entrevistas e trabalhos em conjunto, bem como resultado de mais de cem horas de conversas entre os dois.

Embora Erickson não fosse propriamente um terapeuta de família, como Virginia Satir, sua maneira de agir era fortemente orientada para o núcleo familiar e esta obra oferece abundante material de casos que abordam as principais etapas do ciclo vital de uma família.

A obra que Golfinho ora apresenta como "Livro do Mês", leva muito em conta essa rica faceta ericksoniana, considerada pelo autor, como de terapia estratégica, por levar em conta o desenvolvimento de uma abordagem particular para cada problema do cliente.

Livro de quase 300 páginas, "Terapia não-convencional" apresenta didaticamente um modelo estrutural utilizado por Erickson em seus trabalhos como terapeuta, desde o ciclo de vida familiar, a arena da paixão humana, namoro, casamento e suas consequências, filhos, dificuldades dos parceiros conjugais, relações pais e filhos, aposentadoria e velhice.

No capítulo III, que trata do período do namoro e das mudanças da juventude para o início da fase adulta, fica bastante claro o processo laboral ericksoniano: não apontar ou interpretar que tem medo disto ou daquilo. Entendia Erickson que o importante era causar mudança e expandir o mundo da pessoa, não adestrar suas inaptidões. Sua abordagem envolvia ação para gerar a mudança.

Em "Revisão de Caráter do Jovem Adulto" trata da dificuldade de envolvimento social de algumas pessoas, e nos quinto e sexto capítulos da parceria conjugal e suas consequências: dificuldades sexuais, estabilização nos relacionamentos, geração e criação de filhos. Diferentes posições e análises são ericksoniamente abordadas. O Modelo Milton sobre a socialização familiar se expande no próximo capítulo ao abordar os anos medianos da parceria conjugal. Padrões, imposições, brigas de casal, problemas matrimoniais diversos, envolvimentos dos filhos, luta de poder entre o casal, e mais muito mais, são examinados com interessantes proposituras e apresentações de casos clínicos.

Os últimos capítulos, "Desembaraçando Pais e Filhos" e "A Dor de Envelhecer", Haley, à luz dos ensinamentos ericksonianos, consolam os seres humanos com a afirmativa de que nossos problemas permanecem os mesmos através dos séculos, o que nos dá uma sensação de continuidade. Mas como aprendemos que o mapa não é o território, aqui e em todo o livro, belas ferramentas terapêuticas e exemplos de mudanças são apresentados, conferidos, discutidos. Ficamos com a sensação de que mais que problemas são desafios. Entre eles de que a cultura atual valoriza a juventude e pouco a velhice. O ancião, fonte de sabedoria na cultura primitiva, enfrenta o envelhecimento solitariamente – Milton H. Erickson de certa maneira resgata o papel da dignidade e da sabedoria da velhice – morreu ensinando, cuidando solidariamente de jovens e adultos até à véspera da morte.

Uma obra de primeira grandeza, um livro que transpira humanismo, que a par de apresentar um modelo terapêutico, enriquece nosso espírito, amplia nossas sensações com belos exemplos de que o ser humano não é uma ilha isolada, mas um continente, quer como pertencente ao gênero humano, quer como membro dos habitantes, flora e fauna, do planeta Terra.

João Nicolau Carvalho, professor universitário, trainer em PNL